SPFW é a primeira semana de moda no mundo a se alinhar com o varejo
Em meio à discussão global sobre a necessidade de uma grande adequação do calendário de moda à realidade atual do consumidor e do mercado, o SPFW torna-se a primeira semana de moda a oficializar essa mudança, aproximando o desfile do varejo.
O evento completou 21 anos, e durante 17 deles já funcionava num sistema bem próximo do varejo. “Mas era uma condição imposta pela realidade possÃvel. Era o mais distante que a gente conseguia ficar para organizar o calendário. E não tinha internet, nada disso, era um ‘b2b’ totalâ€, relembra Paulo Borges, fundador e diretor do SPFW.
Há três anos, o SPFW fez uma mudança necessária no calendário para dar uma distância para planejar os showrooms, assim as roupas tinham até seis meses para chegar à s lojas. Nessa época, as mÃdias sociais estavam esquentando. Pois há tempos Paulo vem conversando com estilistas e empresários do setor sobre a influência que as redes têm provocado na moda. “Agora vivemos essa grande mudança e voltamos para a nossa origem, que é fazer o desfile como um instrumento para o consumidor finalâ€.
O que muda
A partir de 2017, os desfiles do SPFW acontecerão em fevereiro e julho/agosto, ajustados à s datas de lançamentos das coleções nas lojas para o consumidor. Paulo adianta que algumas marcas, porém, começam a se mexer desde já. “Não é um processo imposto, é um avanço na direção e na bússola. Temos uma transformação adiante e cada marca, ao seu modo, se adequa à sua maneira a essa demandaâ€, explica.
Essa é uma indústria que vive claramente de ciclos e o atual está dando sua volta final. A internet e as redes sociais provocaram grandes mudanças, e permanecer estático ou andar para trás é impensável. Há de se acompanhar o movimento natural.
As redes sociais atrapalham o ciclo da moda? “Não, elas impulsionam. O acerto é o que você está mostrando. E nós podemos fazer esse ajuste no calendário mais facilmente porque vivemos 17 anos na boca dessa data, mas o consumidor não tinha como ver porque não havia internet como hojeâ€.
Desfiles são sobre ideias
Para Paulo, o novo momento do SPFW chega com uma série de aprendizados, como o planejamento dos showrooms e o entendimento do desfile como uma ferramenta de construção de marca e comunicação. “O grande momento é o desfile. Ele é 360 graus, atinge a imprensa, o varejo e, através da internet e das redes, o consumidor. É uma grande ferramenta de construção da imagem da marca e também provocador de desejo para o consumidor final. Por isso, não se pode perder o principal, que é provocar, fazer pensar, refletir e desejar a criação. Não pode ser simplesmente a apresentação de uma arara de loja. O importante são as ideias. Ninguém se estimula a comprar só porque chegou uma roupa de verão ou de inverno.â€
A mudança também incentiva novos formatos de apresentação. Paulo usa como exemplo a performance de Kanye West na semana de moda de Nova York. “É possÃvel? É possÃvel. Surgem novos formatos, de grandes shows a apresentações menores. A plataforma de apresentação midiática se assume diante dessa mudança.â€
O fim do Inverno e Verão
Outra mudança que acontece – essa já para a próxima temporada, que começa dia 25 de abril – é o abandono da nomenclatura Inverno/Verão, que há décadas acompanha as semanas de moda. “Não faz mais sentido. Somos um paÃs que não tem mudanças rÃgidas de estaçãoâ€. Assim, o próximo evento leva o nome de SPFW 41. Já em novembro, mais próximo da mudança geral, o SPFW será um hÃbrido nesse sentido, porque é uma construção de um processo adiante.
Hoje, mais do que nunca, as pessoas querem a passarela. E é inegável que o consumidor final determinou todas essas mudanças através das redes. Para Paulo, houve um encontro de estÃmulos do ponto de vista de quem cria e de quem consome. “O estilista não cria para ele, e sim para o consumidor. Este quer ver o novo e consumir rápido. É esse ajuste que vai se dar a partir de agoraâ€, explica.
De fato, o novo sistema passará por ajustes e atualizações em diversos nÃveis. Surgirão novas combinações entre imprensa (principalmente as revistas) e marca, para que a informação seja mais estratégica. A moda vai começar a trabalhar em ciclos mais curtos e conseguir descongestionar essa ansiedade que o meio estava vivendo em ter showroom e desfile e, um mês depois, buscar outras formas de continuar alimentando o consumidor, sempre atrás de novidades. “Tudo o que está acontecendo no mundo da moda é muito benéfico para o Brasil. Somos mais jovens, com o mercado em construção. Já vivemos outros ciclos de transformação, seja por crise, abertura de mercado, altÃssima estima ou baixÃssima estima. Já passamos por altos e baixosâ€. Para Paulo, é justamente na crise que as lideranças se fortalecem, que surgem novos ciclos.
O SPFW sempre se posicionou de maneira inovadora, como a transmissão dos desfiles ao vivo desde 2001. “A gente começou a provocar essa conexão com o consumidor. Na época, ninguém queria que o consumidor tivesse acesso. Até pouco tempo atrás, houve muita resistência, era tudo muito fechadoâ€.
A revolução não será televisionada. Ela está sendo transmitida ao vivo no seu smartphone.
Fonte: FFW | Foto: reproduçãoÂ